Eu tenho a mania besta de sempre ler o final do livro antes do início. Acho que esse livro dialogou comigo justamente por isso, como se, prevendo minha curiosidade, já começasse o prólogo avisando: “Não vou lhe dizer se há um final feliz ou triste.” É como se, magicamente, a autora soubesse da minha mania (óbvio que não, mas o mundo perde um pouco da graça quando olhamos apenas pelo filtro da realidade).
O final também parecia saber do meu costume de espiar as últimas palavras… Como não encontrei o que buscava. Restou-me apenas seguir pela história e ver se, no meio do caminho, surgiriam as respostas que tanto queria.
Devorei o livro em poucos dias. Como leitora, é uma vitória quando conseguimos “ler rápido” outra vez, quase como conquistar um troféu. Não sei se foi pela curiosidade ou pela fluidez das palavras e dos cenários… o fato é que a autora conquistou a atenção: a história prende.
Gosto de começar as coisas pelo fim, então já adianto: o epílogo me fez entender o livro inteiro. A autora queria descobrir se era capaz de amar o diferente, de aceitar o que foge às expectativas. E por isso escolheu como protagonista alguém com alexitimia: uma condição em que a pessoa tem dificuldade em identificar, verbalizar e expressar suas próprias emoções. A escrita é simples, os capítulos são curtos, e isso dá à narrativa uma fluidez que não pesa.
Com liberdade e sutileza, a autora mergulha no abstrato mundo dos sentimentos, sem precisar explicar demais outros detalhes.
O livro é dividido em quatro partes. As duas primeiras me cativaram mais; já as duas últimas parecem excessivamente descritivas (se usando de comparação as duas primeiras partes). Contudo o curioso é que essa mudança tem sentido: conforme o personagem vai crescendo e se desenvolvendo, a escrita também muda, torna-se mais complexa, mais analítica, mais detalhada. Então até o que me incomodou, de certa forma, serviu para reforçar o que o livro quer provocar: sentir. Essa é a grande busca da história.
Amêndoas é um livro cheio de clichês que se tornam originais quando vistos a partir de um novo prisma de um personagem que não sente como nós. Younjae é um protagonista frio, quase sem graça, e justamente por isso contrasta com tudo ao seu redor: um mundo que pulsa emoções.
Ele procura nos outros aquilo que não consegue acessar em si mesmo. (não somos todos um pouco assim?) Sua jornada é uma tentativa silenciosa de responder ao que ele, por natureza, não entende. A narrativa tem momentos ásperos, quase brutais, e não poupa o leitor de cenas violentas. Mas, pouco a pouco, Younjae vai se contaminando pelo mundo à sua volta, um mundo que, no início, parecia oposto a ele.
Particularmente não gostei do final. Porém o epílogo da autora compensou tudo.
Amêndoas convida o leitor a olhar para a vida com outros olhos, a rever certezas, a entender que a mente humana é complexa demais para ser encaixada em rótulos como “certo” e “errado”.
“Pelo que entendia, amor era uma ideia extrema. Parecia forçar algo indefinido para a prisão de uma só palavra. Uma palavra usada até se gastar. As pessoas soltavam a palavra ‘amor’ de maneira muito casual, caso estivessem se sentindo ligeiramente bem ou agradecidas.”
Essa reflexão ficou comigo. O amor, de fato, é um conceito grande demais para caber em uma única palavra. Comecei a aprender sobre isso recentemente, e não havia encontrado uma forma de verbalizar essa sensação. E quem a definiu foi justamente um personagem com dificuldade de exprimir suas emoções. Esse paradoxo interessante foi o que me fez gostar de fato da história.
Acho que principalmente por encontrar as contradições que também vivem em mim. Ver os paradoxos que todos carregamos. Essas e outras reflexões do Younjae me fizeram perceber minhas superficialidades e ficar frente a frente com minha hipocrisia. É desconfortável, a verdade normalmente é assim.
Essa história não é minha favorita, porém me ensinou preciosas lições que vou guardar com muito carinho no meu coração.
Amêndoas é um bom livro. Não é inédito, mas é original, diferente…sensível. E por isso, já vale a leitura.
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