Enquanto o governo anuncia para os dias 30 de junho e 1º de julho a divulgação oficial do Plano Safra 2025/2026, os produtores rurais, sejam eles pequenos, médios ou grandes, observam com um misto de esperança e cautela. Fala-se em uma estimativa recorde, próximo a R$ 600 bilhões, superando os R$ 478,56 bilhões do último plano, mas no agro, onde se vive a realidade com os pés no chão, a euforia dos anúncios nem sempre reflete os recursos que, de fato, chegam à ponta. Segundo o próprio Tesouro Nacional, apenas 65% dos recursos anunciados no Plano Safra 2024/2025 foram efetivamente contratados até abril deste ano, o que acende um alerta quanto à execução orçamentária.
Produtores de todos os portes, que dependem de crédito para plantar, girar a produção e manter empregos no campo, sabem que não basta anunciar cifras bilionárias se, na prática, as linhas vierem travadas, com juros elevados, pouca equalização e burocracia exaustiva. Em 2024, apenas 22,3% das contratações do Pronaf ocorreram com juros abaixo de 6%, conforme dados BACEN, dificultando o acesso para o pequeno produtor. Ao mesmo tempo, o custo do crédito comercial disparou, levando muitos agricultores a adiarem investimentos essenciais.
Hoje o país atravessa um cenário fiscal delicado, e o campo tem plena consciência disso. Mas também entende que o crédito agrícola é um investimento na segurança alimentar, na economia dos municípios e na geração de renda para milhões de famílias. De acordo com dados da Confederação Nacional da Agricultura, o agro foi responsável por 24,8% do PIB brasileiro em 2024, e cada R$ 1 investido no campo gera R$ 3,50 na economia nacional. Cortar ou dificultar esse financiamento não é economia é um retrocesso.
Por isso, cresce o temor de que, apesar do discurso político, o volume final efetivamente acessível fique aquém do prometido. Quando o recurso não é subsidiado ou vem com exigências que inviabilizam sua contratação, ele simplesmente não chega. Para se ter ideia, em algumas regiões do Norte e Nordeste, quase 28% dos pedidos de crédito rural foram negados em 2024, conforme levantamento do BNDES, especialmente por falhas cadastrais e exigências cartoriais incompatíveis com a realidade local.
No fim das contas, o que importa para o produtor rural não é o número estampado no papel, mas a condição real de financiamento: juros compatíveis com a realidade produtiva, liberação ágil, segurança jurídica e respeito aos prazos de plantio e colheita. O ZARC ( Zoneamento Agrícola de Risco Climático), atualizado anualmente, já prevê as janelas ideais de plantio. Qualquer atraso na liberação do crédito significa perda de produtividade e impacto direto na rentabilidade da lavoura.
O Plano Safra não pode ser apenas uma vitrine. Ele precisa ser uma ferramenta efetiva de desenvolvimento nacional. E, para isso, o governo precisa escutar o campo, compreender suas dores e apresentar soluções reais, não apenas promessas. A expectativa está lançada, mas os produtores rurais, com sua experiência, sabem que credibilidade se constrói com entrega, não com manchetes.
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